quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Em breve, de volta aos Palcos!


Entrevista exclusiva concedida da cantora Gal Costa à revista Billboard Brasil.
Cantora mãe
Aos 65 anos, modelo para as novas cantoras e renovada pela maternidade, Gal Costa revisita seu passado glorioso e investe no futuro com Caetano e Moreno Veloso.

Por Taís Toti
"Vou tentar sair igual naquela foto. Olha como eu era pura", diz Gal Costa, colocando o rosto em perfil enquanto aponta para a capa de Divina, Maravilhosa, disco duplo de raridades incluído na caixa Gal Total, que reúne o trabalho da cantora de 1967 a 1983. De todo o tempo que passou em uma sala de um hotel em São Paulo para a entrevista com a Billboard Brasil, esse é um dos raros momentos em que ela tira o sorriso do rosto. Em outro instante, responde ao pedido do fotógrafo para fazer cara de séria com uma careta exagerada que leva todos ao riso.
Tanta alegria tem nome: Gabriel, cinco anos, adotado pela cantora em 2007. Gal fica empolgadíssima quando o assunto é o filho, com quem brinca, joga videogame, canta e assiste a vídeos dos velhos tempos no You Tube. Antes de começarmos a entrevista, ela pede licença para fazer uma ligação, apenas para avisá-lo que está com o trabalho (a agenda de entrevistas) quase finalizado e que em breve voltará para o quarto de hotel, onde Gabriel a aguarda. "Ele me acompanha em todos os momentos" .

Mas durante esse processo você não ouviu novamente ( seus discos)?Não, durante esse processo de remasterização dos discos, eu não estive presente.
De alguma forma, hoje, vc sente sua influência nas diversas cantoras que vêm surgindo?
Vendo a figura de várias cantoras atuais, mais novas que eu, sinto uma conexão, sim. Musicalmente sinto que há uma influência. E até em cabelo, imagem, jeito de vestir, flor no cabelo, uma série de coisas...

Você disse recentemente para não lhe cobrarem atitude, que lhe cobrassem música. Mas muitas das jovens cantoras brasileiras têm você como influência também nas atitudes...
Influência nas minhas atitudes?

Sim, você concorda com isso?
Não, nas minhas atitudes, não. Porque a atitude hoje é diferente da fase tropicalista. Hoje a postura é outra. Hoje a pessoa usar as roupas que eu usava na década de 60 não é tão estranho assim, é quase comum. Não é a mesma coisa. Eu acho que muitas cantoras têm influência minha não só musical, mas também no sentido do cabelo, da roupa, do pé no chão descalço, que é também uma coisa que a Maria Bethânia tinha até antes de mim. O show Fa- Tal eu fazia descalça - durante um período, pelo menos.

Sei que esse novo trabalho, o disco de inéditas produzido por Caetano e Moreno Veloso, ainda está no começo, mas você pode falar um pouco do que pretende fazer?
Para minha alegria, Caetano quis produzir esse disco. Eu soube através da imprensa, depois nós nos encontramos em Lisboa onde ele foi assistir ao meu show, depois de um longo tempo sem me ver nos palcos. Ele adorou o show, e conversamos sobre o projeto que ele queria fazer. Aí eu disse: "Ok, eu quero muito fazer isso; quando você estiver pronto, me chame". Já tinha idéia de sonoridade, de banda, de tudo, queria revisitar meu repertório, na verdade. Quando veio o chamado dele, eu interrompi tudo. Estamos começando, já tem seis músicas prontas, já tiramos os tons e estamos começando a trabalhar.

Trabalhar com Caetano Veloso agora é diferente das décadas anteriores? A parceria entre vocês...
[Interrompendo] Claro que é diferente, porque é uma outra época. Ele está diferente e eu estou diferente. O tempo passou, mudamos graças a Deus. Tem Moreno, o filho dele que é meu afilhado e está produzindo o disco junto com ele. Está sendo outro presente de Deus estar em contato com o Moreno, que é uma pessoa maravilhosa. São muitas alegrias, muitas emoções. Como diz o meu amigo Roberto Carlos: "São muitas emoções" [imitando o cantor].

Várias gravações de shows antológicos dos tempos de Índia e Gal canta Caymmi foram descobertas recentemente nos arquivos da Universal e podem ter lançamento em 2011. Já ouviu?
Não ouvi, eu soube. Quando fiz o disco cantando a obra do Caymmi, eu e ele fizemos uma minitemporada juntos. Soube que existe isso registrado, eu não conheço. Soube também que existe o Cantar gravado, no show eu cantava outras músicas além das que estão no disco. E eu sei que tem o registro do Fatal, gravado em 16 mm, com câmeras de cinema, pelo Leon Hirszman [expoente do Cinema Novo, morto em 1987, diretor de São Bernardo e Eles Não Usam Black-Tie, entre outros], que era um grande amigo meu. Esse registro existe sim, provavelmente está com a família dele. E existe o registro em áudio de João Gilberto com Caetano e eu, não existe em imagem porque a TV Tupi pegou fogo e foi tudo embora no incêndio. Caetano veio do exílio para fazer esse programa e voltou.

Nesse período retratado na caixa, de 1967 a 1983, você se sentiu a melhor cantora do Brasil? Quem costumava se dizer a maior cantora era outra cantora, a Elis, mas você se sentiu assim em algum momento?
Acho estranho eu dizer que sou a maior cantora do Brasil, as pessoas é que têm que dizer isso. Eu sei que sou uma das melhores cantoras que o Brasil tem, mas acho muito pretensioso da minha parte dizer: "Eu sou a melhor cantora do Brasil". Não é do meu temperamento fazer isso. Acho que eu sou uma grande cantora, com uma história rica e carreira importante. Mas quem tem que dizer isso é você, ele, outras pessoas... Eu sou como Fernanda Montenegro, mantenho a elegância [risos].
Agora, preparando um novo disco, como você faz para sobrar tempo para o seu filho?
Meu filho está presente em tudo o que eu faço: nas minhas viagens, nos meus ensaios, tudo. Meu filho tem que estar do meu lado o tempo todo. Agora, quando fui à casa de Caetano ver o repertório todo, ele estava lá, brincou com Tom, brincou com Caetano, mostrou no meu iPhone uma gravação que eu fiz dele cantando "Rebolation"... Caetano morria de rir. Ele vai comigo, não largo ele para nada.

Que músicas você canta para ele, e quais vocês cantam juntos?
Você sabe que ele é supermusical? Agora que ele está maiorzinho tem uma noção rítmica maravilhosa. Dança com um suingue! Ele conhece meu disco com repertório de Tom Jobim, canta "eu você, nós dois aqui nesse terraço à beira-mar". Eu mostro no YouTube Caetano cantando, Chico cantando, Bethânia cantando, Doces Bárbaros... Tem uma música que ele adora que está no meu site, que é um rock... "Quando"! Ele gosta, pede para botar: "Mamãe, essa aqui".

Quais os cuidados que você tem com sua voz?
Até que não tenho tanto cuidado. Mas não bebo, não fumo, sou mais caseira do que farrista, procuro descansar. São esses cuidados que tem que tomar. Cantor não pode falar muito, em dia de show procuro não dar entrevista e falar o menos possível. Porque o que mais cansa as cordas vocais é falar; falar muito alto, mais ainda.
O que você ouve quando está em casa?
Sinceramente, eu não tenho ouvido música. Eu vou ao YouTube e vejo muita coisa. Revejo minhas coisas que nem lembrava mais... E vou procurar outros artistas que eu gosto. No Facebook também postam muita coisa bacana. Tem um perfil do João Gilberto lá, dizem que não é verdadeiro... [e realmente não é]. Mas o que aquele João Gilberto posta de coisa bacana, só música boa!

Quando você vê e ouve esses vídeos seus de algumas décadas atrás é com nostalgia ou com autocrítica? Como é a sensação?
Tinha uma época em que eu dizia: "Puxa, eu devia ter cantado assim, não assado", mas hoje, não, eu acho que assim ficou bom. Às vezes penso que hoje eu cantaria de outra maneira. Você canta uma música de um jeito num dia e de outro jeito no outro. A divisão rítmica da palavra, da poesia, você nunca canta igual. Mas eu sou dessas que gostam de se ouvir...

A entrevista não está completa.

2 comentários:

  1. Blog variado e interessante...ótimo
    Sucesso
    http://medicinepractises.blogspot.com/

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  2. muito bom seu blog... E ótima entrevista! Estou te seguindo.

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